O Estado do
Ceará registrou 433 Crime Violentos Letais Intencionais (CVLIs) em
janeiro deste ano, o que representa uma média de 14 pessoas assassinadas
por dia, segundo dados da Secretaria de Segurança Pública e Defesa
Social (SSPDS). O número é 8,5% maior do que em janeiro de 2014, quando
foram registrados 399 homicídios, latrocínios ou lesões corporais
seguidas de morte, que englobam os CVLIs.
Além desses
assassinatos, aconteceram ainda duas mortes dentro de unidades
prisionais e cinco pessoas mortas durante intervenções policiais, o que
totaliza 442 vidas perdidas no mês de janeiro em todo o Estado.
Somente na
Capital, foram registrados 193 CVLIs em 2015, contra 172 em igual
período do ano passado. Uma das vítimas foi o servidor público Francisco
Valdenir da Silva de Castro, alvejado a bala e morto, no dia 18 de
janeiro nas proximidades da casa de Valdenir. O crime aconteceu em um
evento de Pré-Carnaval, no bairro Colônia, Zona Oeste da Capital.
Valdenir foi atingido por uma bala perdida.
Nos municípios
que compõem a Região Metropolitana de Fortaleza (RMF) houve redução, com
91 mortes neste mês contra 100 no ano passado. Já no Interior do Estado
foram anotados 149 Crimes Violentos Letais Intencionais em janeiro
último, contra 127 de 2014. As Áreas Integradas de Segurança (AISs) que
apresentaram o maior número de crimes de morte foram a 2 e a 5, ambas em
Fortaleza. Cada uma registrou 47 CVLIs em janeiro. A AIS que apresentou
o menor número de delitos foi a 6, que contempla a orla da Capital, com
quatro homicídios a bala.
Latrocínios
As estatísticas
da SSPDS apontam, ainda, que dez pessoas foram assassinadas durante
roubos ou tentativas de roubo, no Estado, no primeiro mês do ano. Sete
desses latrocínios (roubo seguido de morte) ocorreram em Fortaleza; um
em Juazeiro do Norte, um em Bela Cruz e outro no município de Redenção.
Em comparação
com dezembro de 2014, somente as AISs 7, 10, 11 e 17 conseguiram reduzir
os índices de CVLIs. Todas estão localizadas no Interior do Estado. No
entanto, outras cidades do Sertão cearense também estão sendo atacadas
pelo tráfico de drogas e já percebem a tranquilidade ser abalada.
A violência na
Região dos Inhamuns, por exemplo, tem sido pauta de pronunciamentos de
parlamentares na Assembleia Legislativa do Ceará (AL-CE), que tem
cobrado respostas efetivas contra crimes de pistolagem. Em janeiro de
2014, apenas seis das 18 AISs conseguiram números melhores, ou seja, que
indicam redução de CVLIs.
Vulnerabilidade
Para a
professora-doutora Jânia Perla Aquino, do Laboratório de Estudo da
Violência (LEV) da Universidade Federal do Ceará (UFC), a
vulnerabilidade dos cearenses é maior a cada dia e a matança está
generalizada. "As autoridades não podem mais se dar ao luxo de achar que
a violência é questão só de Polícia. Não é mais possível admitir essa
ameaça contra o nosso direito primordial, que é a vida". De acordo com a
professora, é preciso que as estatísticas divulgadas pela SSPDS sejam
estudadas para embasar um planejamento específico, que gere resultados
efetivos. "Aumentar policiamento não é mais alternativa. Não adianta
fazer concurso e colocar nas ruas soldados treinados durante 30 dias. É
preciso treinar a Polícia para fazer medição de conflitos e não apenas
para prender. Uma espécie de Estado paralelo está sendo estabelecido e é
necessário que o tráfico seja enfraquecido e combatido", afirmou.
Conforme Jânia
Aquino, as medidas a serem tomadas precisam ser pensadas a longo prazo.
"Não dá mais fazer gastos exagerados e colocar em prática medidas sem
resultado. A Segurança Pública está em crise no Ceara há anos. É preciso
um diagnóstico e um planejamento que funcione e não que sirva como
cosmético, que maquia a situação por uns dias, mas depois ela reaparece.
Ações desconectadas tendem ao insucesso e já deu para perceber isso com
as últimas experiências que tivemos no Estado", salientou.
Secretário
O secretario de
Segurança Pública do Ceará, Delci Teixeira, considerou o mês de janeiro
um período ruim, mas atribuiu o aumento no índice dos homicídios a
questões políticas, como troca de secretariado e uma possível
insegurança dos comandos da Polícia em permanecer nos cargos. Em
entrevista na tarde de ontem, após solenidade na Academia Estadual de
Segurança Pública (Aesp), Teixeira afirmou que os novos desafios da
Pasta incluem, além da troca de comandos, uma intensificação nas blitze
e, consequentemente, apreendendo mais armas. Investindo no policiamento
ostensivo na rua e no trabalho de inteligência. "Havia uma certa
insegurança das pessoas se iam permanecer nos cargos e talvez tenha
influenciado, mas isso não é desculpa. Houve um aumento considerável.
Usamos toda a transparência possível", explicou.
"Quando
fechamos o mês de janeiro havia um acréscimo de dez (homicídios), mas
depois chegou aos 34. Isso porque ao final do balanço procuramos em
todos os hospitais aqueles que haviam se lesionado e saber quem se
recuperou ou veio a óbito", detalhou.
Entre as ações
adotadas pelo gestor para combater o crescimento dos CVLIs seria o
aumento no número de policiais nas ruas, verificação de coletivos e
mudanças de gestores nas Áreas Integradas de Segurança (AIS).
O crescimento
no número de apreensões é um fator que causa otimismo no secretário.
"Tivemos a apreensão de 131 carros agora em fevereiro e 168 motos. E
acréscimo nas apreensões de armas de fogo de 7,5 % e de 20% nos e auto s
de prisão em flagrante. O que nos deixa otimista sobre isso. É que o
mês de janeiro foi muito ruim", reconheceu Delci Teixeira.
Sobre as Áreas
Integradas de Segurança que apresentaram maior número de vítimas (AIS 2 e
AIS 5), o secretário afirma que não existe um trabalho específico para
os pontos críticos e que trabalha o Ceará como um todo, mas citou que
houve troca de comando. "Nós temos uma dificuldade grande de baixar os
índices tanto no interior Norte, quanto no interior Sul e na Capital,
são áreas que têm os maiores índices. Temos feito a troca de comandos.
Não significa que sejam incompetentes, mas queremos outras pessoas e com
novas ideias, que talvez deem uma revolucionada na maneira como estamos
trabalhando",afirmou..
O secretario
apontou outra mudança na gestão, que seria uma maneira de normalizar a
situação de latrocínios, que neste mês foi preocupante. Essa
reformulação será no trabalho da Coordenadoria de inteligência (Coin),
da Secretaria de Segurança. "A substituição do coordenador da área de
Inteligência. Ele que pediu para sair. Temos problemas de latrocínio
(roubo seguido de morte), de assalto a banco e estouro de caixas", diz.
Para o
secretario o número ideal de homicídios seria zero, mas como o problema
da insegurança é nacional foi estabelecido um percentual de diminuição
de 6%. Porém, Delci Teixeira diz que espera que o índice chegue a baixar
10% por ano. "Eu gostaria, torço e espero que chegue a baixar 10% a
cada ano. Esse número brutal de assassinatos não pode continuar e nós
temos que diminuir isso", salientou.
Márcia Feitosa / Jéssika Sisnando
Repórter / Especial para polícia