O cenário é de destruição, tristeza, frustração, desencanto e
desesperança. É, assim, que moradores e visitantes reagem ao constatarem
os novos estragos provocados pelo avanço do mar nas Praias do Pacheco,
Icaraí e Cumbuco, na cidade de Caucaia. Os trechos mais danificados
estão no Icaraí, onde a tradicional Avenida Litorânea desapareceu do
mapa e foi arrastada pela força das águas.
Quem visitou o Litoral de Caucaia, nesse período de Carnaval, pode
confirmar nas expressões e adjetivos que abrem o texto desta reportagem o
sentimento de moradores, pequenos comerciantes, donos de imóveis e
turistas.
Todos se sentem derrotados pela violência da maré e frustrados com a
falta de planejamento e lentidão do poder público em adotar medidas mais
seguras e definitivas para conter o avanço do mar.
A decepção maior, principalmente, dos moradores, dos comerciantes, de
pais e mães de famílias que vivem da atividade comercial gerada pela
presença de consumidores (banhistas, turistas, etc) é com o fracasso das
obras improvisadas e sem resultados esperados. A Prefeitura fez a obra
como solução para o problema. Tudo, porém, se transformou em frustração.
Uma nova barreira – com pedras e cimento, denominada de bag wall,
para evitar o avanço do mar, mesmo antes de ser concluída, já está sendo
corroida pelas águas. Os grandes sacos de concreto (com cimento e
areia) não resistem a força das águas, nem ao excesso de sal. Em uma das
áreas da Praia do Icaraí, é fácil notar que o novo muro construído está
sendo engolido pelas marés.
O avanço do mar em direção aos muros de condomínios e casas é ainda
mais visível e as obras que estão sendo realizadas, como afirmam
moradores e comerciantes, não darão resultado. A Prefeitura de Caucaia
gastou, há quatro anos, mais de R$ 8 milhões com a primeira fase do muro
de contenção da maré – o bag wall, a obra foi destruída e o mesmo
sistema voltou a ser implantado e – mais uma vez, o dinheiro está sendo
jogado fora.
Prefeitura coloca um saco de concreto e a maré leva 100 toneladas de areia
“A sensação sentida aqui é que, ao tentar conter o avanço da maré, a
Prefeitura coloca um saco de concreto e a força do mar arrasta, de uma
só vez, 100 toneladas de areia, avançando em direção aos imóveis’’. A
avaliação, ao seu estilo, é do comerciante Vicente Santana, da cidade de
Sobral, ao se deparar com o cenário de terra arrasada no Litoral de
Caucaia.
Santana tem, porém, mais um diagnóstico nessa triste e dura
realidade: ‘’a Prefeitura é uma formiguinha trabalhando, enquanto a maré
é uma força bruta de um grande trator’’. As palavras definem bem o que
as fotos mostram nesta reportagem. O espaço para os banhistas ficou
ainda mais estreito, as pedras de concretos do antigo bag wall estão na
paisagem como escombros, enquanto a nova obra é realizada e os moradores
rezam diariamente para o mar ser mais contido.
As orações não faltam. ‘’Eu rezo dia e noite para Deus nos mandar
proteção. Se depender dos homens da terra, eu não vou ver a Praia do
Icaraí recuperada e como nos velhos tempos’’, disse a pequena
comerciante que se identificou com o nome de Maria dos Anjos, e se
antecipou para pedir à reportagem que não citasse o seu verdadeiro nome
para não sofrer represálias da Prefeitura.
‘’Se a gente sofre com o que está aqui, imagina fazendo denúncia e
apelos para as autoridades políticas do Município olharem para nós’’,
acrescentou. O grito dos moradores do Icaraí ainda não foi suficiente
para o poder público ouví-los e deflagrar uma grande mobilização para o
grave problema entrar na agenda dos Governos Federal e Estadual.
Procurada nessa quarta-feira, 18, pela reportagem do Grande Porto, a assessoria de comunicação não atendeu às nossas ligações.
Fonte: Ceará Agora