Algumas pessoas
veem animais nas nuvens. Francisco Alves Leite os vê nas pedras. E em Quixadá,
onde vive o fotógrafo, há material de sobra para a atividade. A Pedra da
Galinha Choca, o monólito mais ilustre do sertão cearense, é conhecida em
âmbito nacional pela semelhança com a ave que lhe dá o nome. O que muita gente
não sabe é que as rochas de Quixadá abrigam muitos outros animais. (confira abaixo fotos dos
"animais")
Há um ano
Francisco Alves, que prefere se identificar como Chico Javali, começou a
procurar e catalogar formas de animais nos monólitos no sertão cearense.
"A ideia era fazer uma revista ou um livro contando sobre esses formatos
de pedra. Eu imagino um zoológico de pedra. O objetivo é mostrar que Quixadá
não tem só a Galinha Choca, tem outros animais nas pedras", conta.
As formas foram
localizadas quando ele andava pela zona rural de Quixadá para fotografar,
profissão que exerce há 20 anos.
"Gosto
muito de fotografar a natureza, sou fotógrafo há mais de 20 anos e eu começava
a visualizar aquelas pedras com aqueles formatos de animais. Aí eu localizava a
pedra, catalogava, com várias semanas fui juntando e organizando as
imagens."
Conforme o
geólogo de Quixadá Ita Ventura, as pedras do município ganham diversas formas
porque são mais frágeis que a maioria das rochas e são moldadas pela ação do
tempo. "O monólito tem a biotita em 35% da sua composição, o que torna ele
mais frágil e mais fácil de ser esculpido pela erosão, com os efeitos da chuva,
sol, temperatura, ventos. Mesmo sendo mais flexíveis, esse processo leva
milhões de anos."
Pareidolia,
a visão de coisas nas nuvens
A identificação de animais e outras coisas nas nuvens,
rochas ou poças d'água está associada a um fenômeno evolutivo que facilita o
reconhecimento de padrões, de acordo com o físico Alberto Calabrez. O fenômeno
tem o nome técnico de pareidolia, a associação de formas aleatórias com objetos
conhecidos.
"Esse tipo de associação é bem
antiga. Alguns dos registros mais antigos que temos disso são as constelações.
Nossos antepassados viam touros, ursos, leões, animais fantásticos e uma
infinidade de objetos na disposição das estrelas", explica.
Ainda segundo Calabrez, de forma
ainda não explicada pela ciência, algumas pessoas têm mais facilidade para
identificar formas nas pedras ou nuvens. "Talvez o Chico Javali seja uma
dessas pessoas", diz, ao avaliar as fotografias do profissional.
Esse mesmo fenômeno da pareidolia
fez com que muita gente visse um dinossauro
ou um monstro na imagem de um furacão divulgado pela Nasa em 2016 ou a imagem
de Jesus em uma torrada.
Preservação do parque de pedra
O geólogo Ita Ventura alerta também para a necessidade
de preservação do parque rochoso de Quixadá. O sítio é tombado pelo Instituto
de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e reconhecido como uma das
24 paisagens mais bonitas do mundo pela Associação Internacional de Montanhas
Famosas.
Além das formas naturais, os monólitos
do Sertão Central cearense registram imagens rupestres de povos indígenas que
viveram na região há vários séculos.
Quem passeia pelas ruas de Quixadá
pode avistar construções e ruas em meio às rochas, mas todas construções
antigas. Após o tombamento, ficou proibido a construção de estruturas a menos
de 50 metros dos monólitos.
A cidade também não pode ter prédios
com mais de três andares para que a visão das rochas não seja impedida.
"É necessário se conscientizar
de que é preciso preservar os monólitos. Uma cidade com esse tipo de paisagem,
preenchida pelas rochas, é bastante incomum, então temos que manter a paisagem
natural que garante a beleza natural da nossa região", relata Ventura.
Além da paisagem, o geólogo lembra
que os monólitos salvaram o periquito cara-suja da extinção. "Hoje esse
pássaro é restrito a uma região do Ceará. Antes eles viviam em vários países,
mas sobreviveram apenas nos monólitos, que são regiões de difícil acesso e eles
se abrigaram lá. Por isso a necessidade da preservação desse espaço."
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