O
corpo do cantor e compositor Belchior foi sepultado no cemitério Parque da Paz,
em Fortaleza, por volta das 10 horas da manhã desta terça-feira (2). Dois
filhos, irmãos, entre outros familiares, participaram da cerimônia, que,
inicialmente fechada aos parentes, acabou contando com a presença de alguns
fãs. Bastante emocionada, a mulher de Belchior, Edna Prometheu, foi amparada em
cadeira de rodas.
As
músicas do cantor e compositor mais uma vez foram cantadas pelos fãs. Conduzido
por oficiais do Corpo de Bombeiros, o caixão com o corpo de Belchior foi muito
aplaudido na chegada ao cemitério.
"Cresci
ouvindo Belchior por causa do meu pai. Acho que eu vim mais por ele também, que
não pode estar aqui, então, a gente veio aproveitar e trazê-la para compreender
um pouco mais esse momento. A música dele é meio que trilha sonora para
mim.", disse a fã Naiana Carvalho, fotógrafa, que levou a filha ao
sepultamento.
Mais
de 8 mil pessoas se despediram de Belchior nas 24 horas em que o corpo foi
velado no Teatro São João, em Sobral, cidade natal do cantor, e no hall do
teatro do Centro Cultural Dragão do Mar, no Bairro Praia de Iracema, em
Fortaleza, entre as 8 horas de segunda-feira (1º) até cerca de 7h desta terça
(2).
Após
a missa de corpo presente, que começou por volta das 7h, o corpo foi levado em
um carro do corpo de Bombeiros ao cemitério. A missa foi celebrada no palco do
anfiteatro do Centro Cultural, enquanto o público fazia orações na
arquibancada.
Um
grupo de músicos cearenses, amigos de Belchior, fez uma última homenagem ao
cantor cantando as canções dele.
Horas
antes do início do velório em Fortaleza, fãs chegaram ao Centro Dragão do Mar
vindos, inclusive, de outras cidades. Durante toda a tarde, promoveram um
encontro cheio de homenagens e música.
Sobral
O
primeiro momento do velório ocorreu em Sobral, a 240 km da capital, e terminou pouco
mais de 11h30 desta segunda-feira (1º) com aplausos e uma chuva de pétalas na
saída do Teatro São João, no Bairro Centro. Em seguida, o corpo foi levado para
Fortaleza.
Antes mesmo da abertura do teatro, fãs já faziam fila na
praça em frente. O prédio foi decorado, na fachada, com desenhos do rosto do
cantor e um fragmento de uma de suas músicas. Fotos da trajetória do cearense
foram projetadas no palco, enquanto os fãs subiam para se despedir do ídolo ao
som de suas canções.
O corpo de Belchior chegou a Sobral às
7h40 desta segunda, em um voo fretado pelo governo cearense que partiu
do Aeroporto Salgado Filho, em Porto Alegre, por volta da 1h da madrugada.
Morte
Belchior foi
encontrado morto em casa no domingo, em Santa Cruz do Sul (RS), aos 70 anos.
Ele vivia na cidade de 126 mil habitantes do Vale do Rio Pardo, a cerca de 150
km de Porto Alegre, com a mulher, que o encontrou morto.
Ela disse à
polícia que Belchior não tinha problemas de saúde nem tomava medicamentos. Ele
se sentiu mal na noite de sábado, se queixou de muito frio à
esposa e disse que ia descansar no sofá da sala, onde ele costumava ficar para
fazer suas composições, segundo vizinhos.
Segundo amigos, o artista vivia há quatro anos em Santa
Cruz do Sul – dos quais cerca de dois anos na casa onde morreu, cedida por um
amigo. Belchior continuava
compondo, embora não tivesse planos de fazer
shows ou gravar discos, e traduzia suas canções e a obra de
Dante Alighieri.
O governo do Ceará e a Prefeitura de
Fortaleza decretaram luto oficial de três dias pela morte do artista.
Uma análise preliminar indica que o
cantor cearense morreu em razão do rompimento da artéria aorta,
segundo a delegada Raquel Schneider. Ela falou com o médico do IML da cidade de
Cachoeira do Sul, responsável pela necropsia em Belchior. De lá, o corpo do
cantor foi levado para Venâncio Aires para ser embalsamado.
Vida
e obra
Antônio Carlos Gomes Belchior Fontenelle
Fernandes – "um dos maiores nomes da música popular", como brincava
ao se apresentar – nasceu em 26 de outubro de 1946 e foi um dos ícones mais
enigmáticos da música popular no Brasil, com quase 40 anos de carreira. (veja no vídeo acima homenagens
de artistas ao cantor)
Na infância no Ceará, Belchior estudou
piano e música coral, e trabalhou no rádio em sua cidade natal. Seu pai tocava
flauta e saxofone, e sua mãe cantava em coro de igreja. Mudou-se em 1962 para
Fortaleza, onde estudou Filosofia e Humanidades. Também chegou a estudar
medicina, mas abandonou o curso em 1971 para se dedicar à música.
Começou apresentando-se em festivais pelo
Nordeste e teve o primeiro sucesso nos anos 70 ao lado de Fagner, com a faixa
"Mucuripe". Depois do sucesso da canção, mudou-se para São Paulo,
onde compôs trilhas sonoras para filmes e passou a fazer shows maiores e
aparições em programas de televisão.
Em 1974, lançou seu primeiro disco, "A palo
seco", cuja música título se tornou sucesso nacional e ganhou versões ao
longo da história, como a de Oswaldo Montenegro e da banda Los Hermanos.
Com o disco "Alucinação" (1976),
lançou clássicos como as faixas "Apenas um rapaz latino-americano",
"Velha roupa colorida" e "Como nossos pais" – essa última
se tornou conhecida na voz da cantora Elis Regina, que foi uma das maiores
intérpretes das composições de Belchior. Além de "Como nossos pais",
gravou "Mucuripe", "Apenas um rapaz latino-americano" e
"Velha roupa colorida".
Outros artistas também regravaram sucessos
de Belchior, entre eles Roberto Carlos ("Mucuripe")
e Erasmo Carlos ("Paralelas"), Engenheiros do Hawaii
("Alucinação"), Wanderléa ("Paralelas") e Jair Rodrigues
("Galos, noites e quintais").
Em 1982, o cantor lançou
"Paraíso", que tem participações dos então jovens artistas Guilherme
Arantes, Ednardo Nunes, Jorge Mautner e Arnaldo Antunes. Fundou sua própria
gravadora e produtora, a Paraíso Discos, em 1983. Ao longo da carreira,
Belchior teve mais de 20 discos lançados.
G1/CE
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