A quadra chuvosa de 2015 chegou ao fim antes do tempo
graças ao fenômeno do El Niño que, de acordo com a Fundação Cearense de
Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme), começou a atuar antes do
esperado no Ceará. Apesar disso, teremos ainda algumas precipitações
pontuais e isoladas. O baixo índice pluviométrico em 2015 foi
prognosticado com antecedência pela Fundação, apesar de algumas críticas
que se mostraram infundadas.
O principal sistema indutor de chuvas regulares na quadra chuvosa
(fevereiro, março, abril e maio) no Ceará, a Zona de Convergência
Intertropical (ZCIT), começou a se afastar da região precipitando o fim
do período chuvoso. "A ZCIT costuma perdurar até o fim de maio. Isso,
quando estamos no chamado ano bom. Provavelmente, por influência do
fenômeno El Niño, ela se afastou, encurtado a estação chuvosa", explicou
o meteorologista Raul Fritz.
Oceano Atlântico
Além desse fator preponderante, segundo Raul Fritz, "as condições do
Oceano Atlântico evoluíram negativamente em meados de abril. Os dois
fatores juntos contribuíram para a diminuição das chuvas antes do
previsto. Vale ressaltar que ainda teremos algumas precipitações que, no
geral, serão fracas, localizadas e bem pontuais".
No período que vai do fim deste mês ao início de junho é possível que
tenhamos algumas chuvas vindas do leste do Oceano Atlântico e da costa
do Rio Grande do Norte e Paraíba. "Normalmente, chove bem nesses locais.
É possível que algumas dessas precipitações alcancem o Ceará. Mas, não
serão muito significativas para nós", acrescentou.
Raul Fritz alertou para a necessidade de todos começaram a adotar
medidas para guardar água. "É preciso poupar de todas as formas. Creio
que se deve até pensar em racionamento. Se, nesse instante, a situação
dos açudes é preocupante, no segundo semestre deve piorar bastante com o
consumo e a evaporação", apontou Fritz.
Pode piorar
A situação, que é das mais críticas, pode piorar mais ainda. Segundo
Raul Fritz, há uma possibilidade bem considerável nesse instante de que o
El Niño prossiga até o fim de 2015 e início de 2016. "É uma
possibilidade e, como tal, não pode ser desprezada. Não estamos vendo
nenhum sistema meteorológico importante que possa trazer chuvas nos
próximos dias", explicou.
Em relação à previsão não confirmada até aqui da Funceme para o mês de
maio, de que se aproximaria da média histórica, Fritz acredita que
"nossos modelos climáticos podem não ter captado com tanta precisão a
ação do El Niño".
Nos últimos dias, a Funceme tem recebido ligações de agricultores
desesperados com a perda da safra. "As pessoas nos procuram relatando o
problema. Muita gente já fala em se desfazer dos animais. Nem todo mundo
está conseguindo armazenar água suficiente para suportar o restante do
ano", contou.
Média histórica
Choveu em apenas cinco municípios das 7h de sexta-feira até as 7h de
ontem. A defasagem hídrica nos 18 primeiros dias de maio é de 54.9%. A
média histórica do período é de 89 milímetros e tivemos o registro de
apenas 40,6% disto. Se persistir a tendência atual, o último mês da
quadra chuvosa será tão negativo quanto janeiro, até agora o pior dos
quatro.
Conforme a Funceme, "observam-se poucas nuvens sobre o Ceará. A pouca
nebulosidade está associada à atuação de uma massa de ar seco sobre
parte do setor norte do Nordeste (NE) brasileiro, padrão observado nos
últimos dias". Para hoje, "áreas de instabilidade atmosférica devem
deixar o céu com nebulosidade variável entre a madrugada e a manhã. No
decorrer do dia, céu entre parcialmente nublado e claro em todas as
regiões cearenses".
Já amanhã, segundo a Funceme, "o Ceará deverá ficar sob a influência de
áreas de instabilidade atmosférica. Por isso, o céu ficará com
nebulosidade variável e com possibilidade de chuvas isoladas no
centro-sul, principalmente entre a madrugada e manhã. Nas demais
regiões, céu parcialmente nublado passando a claro longo do dia".
Açudes
A pouca incidência de chuvas em maio fez com que o nível dos açudes
monitorados pela Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos (Cogerh)
baixasse nos últimos dias. Atualmente, os equipamentos apresentam uma
média de 19,7% da capacidade acumulada. O mais preocupante é que, nesse
instante, ainda em plena quadra chuvosa (pelo menor na teoria), nenhum
reservatório está mais sangrando. Apenas seis açudes estão com sua
capacidade acima de 90%. O Açude Arrojado Lisboa, terceiro maior do
Estado, atrás do Castanhão e do Orós está com 1,27% da sua capacidade.
Fonte: DN
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