Os minutos de caminhada entre a
parede do açude Castanhão e a água ainda armazenada refletem a gravidade da
situação do maior reservatório do País. Ontem, ele chegou aos 9,9% da
capacidade. Na quarta-feira, 24, quando ainda registrava 10% de volume, teve
reduzida a vazão da água liberada: de sete para cinco metros cúbicos por
segundo (m³/s). Foi a medida acordada para diminuir o prejuízo. Agora, a lâmina
d’água perde um centímetro por dia para o consumo e a evaporação.
A vazão foi decidida em conjunto
com os comitês das bacias hidrográficas, em janeiro, explica Fernando Pimentel,
coordenador substituto do Complexo Castanhão e servidor do Departamento
Nacional de Obras Contra as Secas (Dnocs). Enquanto o calor faz evaporar cerca
de 4 milímetros diários, as outras perdas são dos múltiplos consumos. Além do
abastecimento da Região Metropolitana de Fortaleza (RMF), cidades do Médio e
Baixo Jaguaribe e as atividades resistentes de agricultura e piscicultura no
entorno se servem do açude. O volume médio dos açudes do Ceará é 12,6%.
Ter um dígito de volume era a
realidade do Castanhão há 12 anos, quando a estrutura via chegar as primeiras
águas e subia de nível a cada dia. Esteve com 9,85% em 29 de janeiro de 2004,
segundo dados do Portal Hidrológico do Ceará. Inaugurado no ano anterior em
Alto Santo, a 253 quilômetros da Capital, sangrou pela primeira vez quase um
mês depois. Teve as 12 comportas abertas e liberou a vazão de 300 metros
cúbicos por segundo.
O máximo de armazenamento foi com
as chuvas de 2009, atingindo 97%. O mar em pleno sertão cearense consegue se
espalhar por 36 mil hectares. Agora, a paisagem árida prevalece.
Por onde ainda se acham espelhos
d’água, o sertanejo vai fazendo o que pode. Edvan Nascimento, 22, mora na Vila
Pesqueira do Alto Santo e está sem emprego. Desde a retirada de pelo menos 700
toneladas de peixes do Castanhão e de um prejuízo de cerca de R$ 4 milhões para
os produtores em junho do ano passado. Agora, precisa correr atrás dos R$ 1.100
que já não ganha todo mês como arraçoador no criatório. Consegue bicos limpando
peixes. “Vou me virando. Tiro R$ 500 conseguindo trabalho duas a três vezes por
semana”, diz.
O Povo Online
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