O Ceará ocupa uma preocupante posição no cenário nacional ao registrar o segundo maior número de mortes de motociclistas no trânsito entre todos os estados brasileiros. Os dados, divulgados pelo Atlas da Violência, indicam que o estado só fica atrás do Piauí nesse tipo de ocorrência.
Enquanto o total de óbitos no trânsito apresentou queda significativa nos últimos dez anos, passando de 2.362, em 2013, para 1.394, em 2023, os acidentes fatais envolvendo motociclistas seguem em trajetória oposta. O número de motociclistas mortos subiu de 757 para 830 nesse mesmo intervalo, representando hoje cerca de 60% de todas as mortes em acidentes de trânsito no estado.
Fortaleza, capital cearense, concentra uma frota de aproximadamente 380 mil motocicletas, segundo dados do Ministério dos Transportes. O aumento de serviços por aplicativo e o crescimento da informalidade no setor fizeram surgir um novo perfil de condutor, pressionado por metas e prazos cada vez mais apertados.
Especialistas em mobilidade apontam que o modelo de remuneração por produtividade, comum entre entregadores e mototaxistas, acaba incentivando comportamentos arriscados, como o excesso de velocidade e a negligência com normas de segurança.
O Sindimotos, sindicato que representa a categoria, reconhece os desafios enfrentados pelos profissionais. Segundo a entidade, é comum que entregadores enfrentem longas jornadas, chegando a trabalhar até 14 horas por dia. Para obter ganhos razoáveis, muitos precisam realizar pelo menos quatro entregas por hora, o que exige deslocamentos rápidos e ininterruptos.
“A conta é simples: para conseguir manter um bom rendimento, é preciso correr contra o tempo, muitas vezes ignorando as pausas e os próprios limites físicos”, explica Glauberto Maia, presidente do sindicato.
Em resposta ao cenário alarmante, a Autarquia Municipal de Trânsito e Cidadania (AMC) de Fortaleza reforça que vem intensificando fiscalizações, promovendo ações educativas e atuando de forma integrada com órgãos de segurança pública.
“As medidas buscam não só proteger o condutor, mas também garantir a segurança de toda a população. O foco é coibir atitudes perigosas e preservar vidas”, afirmou André Luís Barcelos, gerente da AMC.
Apesar das ações em curso, o crescimento das mortes de motociclistas impõe um desafio urgente às autoridades e à sociedade: equilibrar a demanda por mobilidade e entregas rápidas com políticas eficazes de segurança viária e condições dignas de trabalho.
Folha do Vale
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