Jaguaribara. No ano em que
completa 14 anos de inauguração, o maior açude de múltiplos usos do Ceará não
será capaz de assegurar, sozinho, as necessidades hídricas para as quais foi
construído. O gigante que, até então, é quem garante o abastecimento da Região
Metropolitana de Fortaleza (RMF), a perenização do Rio Jaguaribe até a foz,
parte da agricultura irrigada e das indústrias do Pecém, precisará da ajuda do
Orós, que possui cerca de três vezes menos capacidade total, para atender
demandas essenciais do próximo semestre.
O Orós vem operando com vazão 2,5
m/s, e o Castanhão com 15m³/s. Desse valor, 9,5m³/s seguem para o Eixão das
Águas com destino à RMF e 5,5m³/s vão para a perenização do Rio Jaguaribe até
Itaiçaba, de onde segue pelo Canal do Trabalhador até a capital.
Prioridade
As prioridades do uso da água do
Castanhão, bem como do Orós, serão definidas no XXIII Seminário de Alocação
Negociada das Águas dos Vales do Jaguaribe e Banabuiú, no próximo dia 20 de
julho, em Limoeiro do Norte.
Na ocasião, será apresentada a
situação dos açudes e, a partir da análise da oferta e demanda de água, serão
definidas, pelos Comitês de Bacias Hidrográficas do Alto, Médio e Baixo
Jaguaribe, do Salgado e do Banabuiú, as vazões que cada açude vai operar no
segundo semestre.
Atualmente, o Castanhão se
encontra com 557.030 m³, o que equivale a 8,31% da sua capacidade. Esse volume
é um pouco menor que a atual situação do Orós, que armazena 645,050 m³ sendo
33,25% do seu aporte total. Segundo informações técnicas do Departamento
Nacional de Obras Contra as Secas (Dnocs) sobre o Castanhão, este atingirá o
volume morto quando chegar a 250.000 m³, o que inviabilizará seu bombeamento
para o Eixão das Águas.
Prevendo essa incapacidade do
Castanhão, a Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos (Cogerh) já estuda como
alternativa, a ser apresentada na Reunião do Comitê, a utilização das águas do
Orós para contribuir no abastecimento da RMF.
Em nota, a Cogerh informou que,
devido ao resguardo da água para atividades locais, o Orós poderá contribuir
novamente com as regiões do Médio e Baixo Vale do Jaguaribe e,
complementarmente, com a RMF, sem comprometer seus atendimentos locais e que,
atualmente, a perenização do Orós atende até a captação de Jaguaretama, via Rio
Jaguaribe, já na bacia hidráulica do Castanhão, de modo que o atendimento do
Castanhão demandará um incremento de vazão para estender este trecho
perenizado.
Entretanto, essa possibilidade
vem sendo refutada por integrantes da Bacia que compreende o Orós, e moradores
de Orós e Icó, que serão os mais afetados. A Cogerh, por sua vez, alega que a
medida é uma alternativa diante da insistência de chuvas abaixo da media. No
fim de 2012, primeiro ano de pouca chuva desta sequência, o Castanhão possuía
3.725.880 m³, o que representava 55,61% da sua capacidade. Com a pouca recarga
dos anos seguintes e o alto consumo, de lá para cá, o Castanhão perdeu 82,68%
do que tinha naquele ano, e atualmente está com pouco mais de 550.000 m³.
Piscicultura
A situação preocupa diversos
setores econômicos que dependem da água do açude, dentre eles os piscicultores.
Para o piscicultor José Erivando, da Cooperativa de Produtores do Curupati
Peixe (CPCP), em Jaguaribara, com o atual nível, eles só conseguirão manter a
criação de tilápia até dezembro deste ano.
"Nosso técnico já nos
informou que, com essa vazão que está tendo hoje, a partir de janeiro do ano
que vem, não temos mais condições de criar. Quem tem condições de migrar para
outros reservatórios em melhores condições, em outros Estados, já estão
fazendo. Mas a gente, que depende daqui, não sabe como vai ser", lamenta.
Rachadura
O baixo nível do Castanhão também
evidenciou problemas como uma rachadura na estrutura de uma das comportas, que
foi identificada em 2014 e ainda não foi reparada. Na época, a observação foi
feita por técnicos do Dnocs e os laudos, encaminhados para providências de
reparo. Entretanto, nada até o momento foi feito. Uma equipe do Conselho
Regional de Engenharia e Agronomia do Ceará (Crea-CE) esteve na barragem, no mês
passado e deve emitir laudo até o fim de agosto.
Diário do Nordeste
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