De acordo com matéria do O Globo nesta segunda-feira, 26, o relator
do Orçamento da União de 2016, deputado Ricardo Barros (PP-PR), disse,
em reação à pressão do Palácio do Planalto, que vai para o debate com o
governo e mantém sua posição de cortar R$ 10 bilhões do programa Bolsa
Família. Ricardo Barros disse ao Globo que seu papel é fechar as contas
do Orçamento de 2016, que foi enviado ao Congresso com um rombo de R$
30,5 bilhões, e que precisa cortar despesas. Ele disse que seu papel
será propor o corte, e o do governo, de propor a recomposição da verba.
O Bolsa Família tem um orçamento previsto de R$ 28,8 bilhões para
2016, e a redução de R$ 10 bilhões seria um corte de 35% no valor
global. Como relator, o deputado apresenta uma lista de propostas, mas a
Comissão Mista de Orçamento (CMO) e o plenário do Congresso precisam
aprovar suas sugestões dentro do projeto de lei. O Orçamento é uma
previsão de receitas e uma fixação de despesas que têm que ter
exatamente a mesma conta de chegada. Com a queda na arrecadação, a
receita será menor, e é preciso cortar mais despesas.
Em entrevista após a reunião de coordenação política com a presidente
Dilma Rousseff, pela manhã, o ministro Ricardo Berzoini (Secretaria de
Governo) disse que é possível fechar o Orçamento de 2016 sem cortar o
Bolsa Família.
Na semana passada, como O GLOBO antecipou, Ricardo Barrros anunciou
como alternativas o corte no Bolsa Família e o aumento do chamado
imposto da gasolina, a Cide. Ele quer elevar o imposto em R$ 0,40 por
litro, o que geraria uma receita extra de R$ 12 bilhões, sendo R$ 9
bilhões para a União e R$ 3 bilhões para os estados. A Cide cobrada na
gasolina já é de R$ 0,10, que subiria para R$ 0,50. O problema do
aumento do imposto em tempo de crise é a pressão sobre a inflação. “Não
tem pressão nenhuma (do governo). Ninguém falou comigo. Vou para o
debate. Vou cortar e, depois, eles vão recompor a verba. Esse é o
caminho” disse Ricardo Barros.
O deputado disse que há dados sobre o Bolsa Família que mostram que o
programa deve, no mínimo, ser alterado. “Há 72% ou 75% dos
beneficiários que trabalham, e muitos com carteira assinada e com
aposentadoria. Além disso, 10% não sacam o dinheiro. Com esses dados,
acham que não deve mexer (em nada)?” disse Ricardo Barros.
O Planalto quer manter o discurso do Bolsa Família e tentar acelerar a
votação de outras medidas do ajuste fiscal, que estão paradas. O
governo já foi avisado que, diante do clima político contaminado pelas
denúncias da Lava-Jato, o Congresso não deve aprovar as principais
propostas do ajuste formulado pelo ministro da Fazenda, Joaquim Levy, em
especial a recriação da CPMF, que geraria receita de R$ 32 bilhões.
O governo quer acelerar a aprovação de duas propostas nesta semana: A
Proposta de Emenda Constitucional (PEC) que prevê a prorrogação da
chamada DRU(Desvinculação de Receitas da União), mecanismo que permite
ao governo mexer livremente em parte de suas receitas, enviada pelo
governo ao Congresso no dia oito de julho deste ano. A proposta do
governo, que quer prorrogar a DRU, é aumentar a alíquota de 20% para
30%. A DRU envolve R$ 121,4 bilhões e faz parte das contas fiscais.
A PEC está na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara,
onde o prazo é de três meses em média de tramitação. Para tentar ganhar
tempo, a proposta do governo foi anexada a uma PEC já em discussão, de
autoria do atual ministro das Comunicações, ministro André Figueiredo
(PDT-CE).
Numa mudança de posição, nesta semana, o presidente da Câmara,
deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), disse que há chances de se aprovar a
DRU. O deputado Marcos Rogério (PDT-RO) foi escolhido relator da
proposta.
Além da DRU, o governo deve conseguir aprovar na Câmara, já nesta
terça-feira, o projeto que trata da repatriação de recursos do exterior,
apontado pela área econômica como uma das fontes de receitas extras
para o governo. A proposta fixa em 17,5% a alíquota do Imposto de Renda a
ser paga, além de 100% de multa. Com isso, a carga máxima a ser paga
será de 35%. As previsões de receita com a repatriação variam de R$ 40
bilhões a R$ 150 bilhões.
O relator Ricardo Barros não acredita na aprovação da CPMF e que, por
isso, precisa fazer ajustes para conseguir enxugar as despesas de R$ 32
bilhões e ainda em pelo menos R$ 6 bilhões, cuja receita viria da
contribuição das entidades do chamado Sistema S (entidades de serviços e
formação para trabalhadores da indústria e de outros setores da
economia). O governo até agora não enviou o projeto retendo parte dos
recursos aplicados no Sistema S.
Ricardo Barros já anunciou como alternativas à redução de despesas em
programas sociais, em especial no Bolsa Família, a redução da verba do
Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) como forma de bancar R$ 4,5
bilhões de emendas de bancada impositivas (obras e projetos em cidades
dos parlamentares).
O PAC já foi reduzido pelo governo no pacote anunciado em setembro
por Levy como forma de reverter o rombo de R$ 30,5 bilhões no Orçamento
de 2016 enviado ao Congresso. Em setembro, Levy e Nelson Barbosa
(Planejamento) anunciaram a redução de despesas em R$ 26 bilhões, de um
lado, e medidas para gerar novas receitas no valor total de R$ 28,6
bilhões, incluindo a recriação da CPMF. Na ocasião, o PAC (sem incluir o
Minha Casa, Minha Vida) foi reduzido em R$ 3,8 bilhões em obras gerais e
ainda outros R$ 4,8 bilhões diretamente do programa Minha Casa, Minha
Vida.
O problema é que boa parte destas medidas não sairão do papel até
dezembro. Na prática, a “mágica” de fechar as contas só poderá ocorrer
depois que o governo enviar a nova meta de resultado primário de 2015,
que tem reflexos no comportamento orçamentário de 2016.
Fonte: Ceará Agora
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