quarta-feira, 23 de março de 2016

Água do mar pode dar segurança hídrica às grandes cidades

O diretor - presidente da Agência Nacional de Águas (ANA), Vicente Andreu, disse que é preciso considerar a dessalinização da água do mar como fonte alternativa para a segurança hídrica das grandes cidades brasileiras, mesmo sendo uma tecnologia cara. Andreu participou do seminário organizado pela ANA para o Dia Mundial da Água, celebrado hoje (22).

A quantidade de água no mundo é finita, mas renovável, porém, segundo Andreu, além do aumento contínuo da demanda nas cidades e na agricultura, em vários aspectos a água está sendo degradada, portanto depois não pode ser utilizada. “Essas alternativas, como reuso, captação de água de chuva, adoção de tecnologia nas edificações e, inclusive, a dessalinização, colocariam água nova no sistema no sentido de tentar equilibrar essa equação que hoje é desfavorável para a água”, disse.


O Brasil já utiliza a tecnologia de dessalinização da água do mar. Um exemplo é o Arquipélogo de Fernando de Noronha que tem sua água obtida desta forma.

Andreu explicou que não é mais possível fazer previsões hidrológicas consistentes como no passado e que é preciso admitir a fragilidade do sistema hídrico diante de eventos extremos. “As séries históricas nos trazem informações, mas é preciso traduzir isso em medidas técnicas adequadas, seja pelo nosso conhecimento, seja dialogando com outras áreas do conhecimento”.

A mudança de hábitos de consumo da população também são fundamentais para o diretor-presidente da ANA. “As crises têm sinalizado para a sociedade que não podemos manter padrões de consumo que são incompatíveis com a trajetória de oferta de água e poluição. Essa mudança é absolutamente vital”, disse.

Andreu explicou que as cidades são responsáveis por cerca de 12% a 16% do consumo de água do país. “Isso pode parecer pouco, mas os hábitos que as pessoas adotam vão se manifestar em vários aspectos. Se a pessoa economiza água, ela vai cobrar da indústria e da agricultura para que elas economizem água. E vai cobrar até dos políticos para que a água entre como agenda relevante. Não pode ser só uma agenda de crise”.

Gerenciamento

Para o presidente da ANA, é imprescindível também fazer o gerenciamento correto dos recursos hídricos, coordenando os diversos usos e tomando medidas regulatórias e disciplinatórias, para evitar os conflitos em momentos de crise.

Além de uma melhor regulação, Andreu defendeu a melhoria da infraestrutura, como a construção de reservatórios de água. “O Brasil construiu, durante muito tempo, importantes reservatórios, mas por várias razões deixou de construir. Eles são o melhor mecanismo para enfrentar cheias e secas”, explicou.

O presidente da ANA disse ainda que é preciso fortalecer o sistema de gestão, como os comitês de bacia e os conselhos estuais para que, em momentos de crise, a Justiça não precise intervir. Ele deu como exemplo a crise hídrica que atingiu o Sudeste, entre 2014 e 2015, e colocou a água da bacia do Rio Paraíba do Sul no centro de uma disputa entre os estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais.

Para Andreu, é fundamental definir antecipadamente, com a participação dos interessados, os marcos regulatórios e as condições de operação dos reservatórios estratégicos para o País.

Saiba mais

Menos produtividade, êxodo rural e crise
Segundo a oficial do Programa Mundial das Nações Unidas em Avaliação dos Recurso Hídricos da Unesco na Itália, Angela Ortigara, metade da água do planeta é utilizada em oito grandes setores dependentes de recursos hídricos e naturais: agricultura, silvicultura, pesca, energia, manufatura intensiva de recursos, reciclagem, construção e transporte. Três de cada quatro empregos de toda a força de trabalho global são forte ou moderadamente dependentes da água. “Os problemas de escassez levam à diminuição da produtividade agrícola, à perda de empregos e ao êxodo rural”, adverte Angela.

O Povo

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