O Ceará registrou 13.473
assassinatos desde 2013, quando as estatísticas de mortes passaram a ser
divulgadas como Crimes Violentos Letais Intencionais (CVLIs). Deste total, 264
casos se deram durante assaltos. São os chamados latrocínios, os roubos
seguidos de morte. O número representa 1,96% do universo de CVLIs, que incluem
ainda os homicídios e as lesões corporais seguidas de morte. Mas, apesar da
disparidade significativa entre a somatória dos casos, especialistas afirmam
que, entre os crimes citados, são os latrocínios que geram o maior impacto na
sensação de segurança.
Isso explicaria o esvaziamento da
praça Engenheiro Pedro Felipe Borges, conhecida como praça Oficina do Senhor,
no Cocó, após o roubo seguido de morte que vitimou o juiz aposentado Edvalson
Florêncio Marques Batista, 77, no último dia 8. Justificaria também o medo que
as pessoas adquiriram de transitar pela Via Expressa, em Fortaleza, que tem
histórico de ações semelhantes. Foi lá que o jornalista do O POVO Valdemar
Menezes, 70, sofreu uma tentativa de latrocínio, no dia 5.
A teoria resumiria ainda o porquê
de, mesmo após uma sequência de redução nos crimes dessa modalidade, nos três
últimos anos, a sensação de insegurança não diminuiu. Em 2015, foram 65 roubos
seguidos de morte no Estado, conforme a Secretaria da Segurança Pública e
Defesa Social (SSPDS). Com relação a 2013, houve queda de 45%. Mas, a cada nova
ocorrência, o medo suplanta as estatísticas e remonta a percepção de que
“poderia ter sido com qualquer um”. Deste janeiro último, 16 latrocínios foram
registrados.
“Embora o número seja baixo,
comparado ao CVLI geral, esse tipo de crime muito nos preocupa, uma vez que as
pessoas que morrem são, realmente, vítimas da violência. Sem generalizar,
obviamente, mas nos homicídios e lesões, de certa forma, as pessoas mortas se
envolveram em situações que levaram a esse resultado”, analisa o coronel Lauro
Prado, secretário adjunto da SSPDS.
Percepções
Para o coronel, a influência na
sensação de segurança pelos latrocínios se dá pelo “histórico de vida” das
vítimas. “Quando morre alguém numa comunidade, muitas vezes, o comentário é
‘menos um’. Isso porque grande parte das mortes decorre de tráfico de drogas. E
isso também nos preocupa”, frisou, apontando que há, também, preconceitos na
percepção.
Coordenador do Laboratório de
Estudos da Conflitualidade e da Violência (Covio) da Universidade Estadual do
Ceará (Uece), Geovani Jacó avalia que o chamado “histórico das vítimas” é
baseado em um “repertório moral”, que interfere diretamente na percepção que as
pessoas têm dos crimes e, principalmente, das vítimas. Isso faz com que o
homicídio seja encarado com ambiguidade.
“O fato de as maiores vítimas dos
homicídios serem jovens, pobres, da periferia e muitas vezes envolvidos com o
tráfico de drogas mobiliza dispositivos classificatórios, que são meramente
morais.
Apontam os jovens como sujeitos
perigosos, enquadrados na sujeição criminal e, portanto, predispostos a serem
mortos. Isso não repercute no imaginário social porque essa morte,
perversamente, é até desejada no esquema de assepsia social”, lamenta.
13.473 assassinatos foram
registrados no Ceará desde 2013
264 destas vítimas foram mortas
durante assaltos
Saiba mais
Para o sociólogo Marcos Silva,
professor da Universidade da Integração Internacional da Lusofonia
Afro-Brasileira (Unilab), os latrocínios interferem na sensação de segurança
também pelas características do crime, que, muitas vezes, se dão de forma
banal, cruel ou decorrem de reações de defesa provocadas por uma descrença no
sistema de segurança.
“Uma vida humana ser tirada por
conta do bem material gera clamor. Afeta muito mais a parte da população que
detém bens e valores. Foge aos parâmetros do comum criados para os homicídios,
que são seletivos. Provoca efeitos colaterais diferentes. E por mais que os
homicídios sejam elevados, uma parte da população não é afetada diretamente”,
afirmou Marcos, que é também pesquisador do Laboratório de Estudos da Violência
(LEV) da Universidade Federal do Ceará (UFC).
A Capital concentrou a grande
maioria dos casos de latrocínio. Entre as Áreas Integradas de Segurança (AISs),
a que mais registrou ocorrências foi a AIS-5, encabeçada pela Parangaba, com 31
casos. Este ano, porém, nenhum caso foi registrado na área.
A AIS-12 aparece em 2º lugar, com
25 ocorrências. Puxada por Sobral, a região já registrou três casos desde
janeiro. Já as AISs 1 e 2, lideradas pelo Centro e pelo Conjunto Ceará, na
Capital, registraram, 23 latrocínios cada. O coronel Lauro Prado afirmou que a
SSPDS atua na prevenção dos crimes com ações ostensivas e apreensão de armas.
“Recolhemos cerca de 20 armas por dia no Estado”, disse.
O Povo Online
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