O regulamento da Copa América 2015, publicado no site da Conmebol,
indica que caso um jogador receba o cartão vermelho por conduta
antidesportiva, qualquer outra advertência acumulada no decorrer do
mesmo jogo deverá ser mantida. Nesta quarta-feira Neymar foi expulso na
derrota para a Colômbia por ato de indisciplina depois de já ter
recebido o segundo amarelo, que o suspenderia para o jogo contra a
Venezuela, domingo, e agora vê a Conmebol contradizer o próprio
regulamento: após confusão e versões pouco claras, a entidade diz que o
capitão da seleção brasileira está suspenso previamente por apenas uma
partida, e não duas. No Chile, mesmo palco do torneio atual, o Brasil
viu na Copa do Mundo de 1962 Garrincha jogar uma final depois de ser
expulso na semifinal.
A questão é que o regulamento só indica.
Não é, de fato, totalmente claro. O parágrafo 3 do artigo 29 do
documento diz: "Se um jogador comete conduta antidesportiva grave
(conforme a Regra 12 das Regras do Jogo) e é expulso do campo de jogo
(cartão vermelho direto), qualquer advertência que recebera previamente
durante a mesma partida manterá sua vigência". Para a própria Conmebol
logo após o jogo no estádio Monumental, em Santiago, Neymar estava
suspenso previamente por dois jogos - um pelo segundo amarelo, outro
pelo vermelho direto. A definição, porém, durou pouco mais de 12 horas.
Às 13h15 desta quinta-feira a Conmebol emitiu nota em seu site oficial
dizendo que Neymar estava suspenso por dois jogos e que já estava
definido que ele perderia pelo menos as partidas da seleção brasileira
contra a Venezuela, domingo, e um possível embate pelas quartas de final
da competição. Minutos depois o texto foi alterado e passou a dizer que
o camisa 10 de Dunga estava suspenso por um jogo antes de seu
julgamento. Antes disso, no fim da manhã, o presidente do Tribunal
Disciplinar da Conmebol, o brasileiro Caio Rocha, já havia afirmado que
em sua interpretação do regulamento Neymar só teria de cumprir um jogo e
não dois. Após o confuso comunicado da entidade, à tarde, ele falou:
"O regulamento realmente é confuso. Ele fala que a suspensão automática
por dois amarelos e por cartão vermelho serão cumpridas na próxima
partida. A Copa América é curta, são apenas seis jogos. Acumular as duas
suspensões representaria um terço da competição. Isso apenas justifica
porque não são as duas partidas como automática, como no Brasileiro, por
exemplo. Lá são 38 partidas", disse o advogado que também preside o
Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD) da CBF.
No
documento, no entanto, não há um artigo que especifique tal situação, o
que permite tal interpretação da Conmebol. "Não há manobra. É um caso
inédito, não existia este Tribunal Disciplinar em competições
anteriores. Estudamos o caso e o regulamento", argumentou Caio Rocha.?
Fosse o regulamento mais claro, não haveria a necessidade de estudo. A
falta de informações sobre o tema pegou até a própria Conmebol e a
seleção brasileira de surpresa. Minutos após o jogo um representante da
entidade afirmou que Neymar cumpriria apenas uma partida de suspensão, e
depois voltou atrás, antes da nova troca de versões no comunicado pelo
site. Ainda imediatamente após o jogo, nem Dunga sabia dizer por quantas
partidas não poderia contar com seu craque. Tal falta de clareza faz
com que a situação que antes parecia simples agora careça de estudo, o
que abre precedente para uma nova interpretação: no caso, a de que
Neymar só precisa cumprir um jogo.
A situação no Chile guarda
semelhanças com o que aconteceu no país em 1962. O então campeão mundial
Brasil jogava a Copa do Mundo desfalcado de Pelé, lesionado na segunda
partida do torneio. O astro virou Garrincha, que acabou expulso na
semifinal por agredir o chileno Rojas. O juiz peruano Arturo Yamazaki e o
bandeirinha uruguaio Esteban Marino, no entanto, não compareceram ao
depoimento para relatar a agressão de Garrincha, que mesmo expulso
acabou podendo jogar a final, vencida pelo Brasil sobre a
Tchecoslováquia. Garrincha foi artilheiro e eleito pela Fifa o melhor
jogador daquela Copa, e o episódio da suspensão não cumprida acabou como
escândalo.
No caso de Garrincha, segundo citado no acervo do
jornal O Globo, a Fifa cedeu após pressões do Brasil e do então primeiro
ministro Tancredo Neves, do governo de João Goulart, e "perdoou" o
craque. A publicação conta que até o presidente chileno da época, Jorge
Alessandri, formalizou pedido à Fifa para que não tirasse "jogador de
futebol tão alegre" da final.
A CBF tem até as 12h desta
sexta-feira para apresentar a defesa de Neymar pela expulsão.
Obviamente, não está descartado que o camisa 10 do Brasil seja condenado
e suspenso por mais uma partida além da suspensão automática que
cumprirá contra a Venezuela. Segundo a Conmebol, a decisão será definida
ainda na sexta-feira.
Fonte: http://noticias.bol.uol.com.br
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