Profissionais da Saúde que atuam diretamente no trabalho com pacientes diagnosticados com a Covid-19 são, cada vez mais, vítimas da doença. Já há registro de, pelo menos, quatro óbitos de profissionais. Além disso, dados obtidos pelo Sistema Verdes Mares junto à Secretária da Saúde do Ceará (Sesa) contabilizam o afastamento de 137 trabalhadores com confirmação ou suspeita da doença. Do total, 28 tiveram exames positivos. Médicos, dentistas, enfermeiros e técnicos ou auxiliares em enfermagem são os mais atingidos pelo vírus. Há, ainda, 109 casos em investigação. Na lista estão assistentes sociais, fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais, nutricionistas, farmacêuticos, técnicos de laboratórios e técnicos de radiologia.
De acordo com levantamento solicitado à Sesa, realizado com dados da Secretaria Executiva de Planejamento e Gestão Interna, o órgão aponta que oito técnicos/auxiliares/assistentes de enfermagem, cinco médicos, um dentista, um atendente de consultório dentário, um técnico de laboratório, três enfermeiros e nove profissionais ligados a outras atividades da Saúde foram confirmados com Covid-19. Os dados foram coletados pela Pasta estadual de Saúde na segunda-feira (13).
Mortes
Desde o início de abril, de forma mais grave, quatro óbitos de profissionais ligados à Saúde (por Covid-19) já foram noticiados. Durante coletiva pela internet, nesta terça-feira (14), o próprio secretário da Saúde do Estado, Dr. Cabeto, falou de duas mortes.
Um maqueiro de 51 anos de idade, que trabalhava como prestador de serviços no Instituto Dr. José Frota (IJF), morreu na manhã da segunda-feira (13) por complicações respiratórias causadas pela Covid-19. O óbito foi confirmado pelo Hospital. O homem, que teve a identidade preservada, passou oito dias internado na Unidade Especial do IJF 2.
Em nota, o IJF declarou que a direção "segue prestando assistência à família e aos demais servidores". Já a empresa contratante, Fortal Empreendimentos, informou que o funcionário recebeu todos os EPIs necessários "para o efetivo exercício laboral". Destacou, ainda, que atende às normas da Medicina e Segurança do Trabalho, e citou o óbito como uma "fatalidade advinda da pandemia que assola a população mundial".
Outro caso, com divulgação do Conselho Regional de Enfermagem (Coren-CE), nesta terça-feira (14), foi o de uma técnica de enfermagem ligada à rede estadual de Saúde. Ela estava internada no Hospital São José e faleceu em decorrência de complicações ocasionadas pela Covid-19.
Na primeira semana de abril deste ano, o Sindicato dos Médicos do Ceará (Sindimed-CE) informou que um médico radiologista, de 43 anos, faleceu em decorrência da Covid-19. O profissional foi a óbito em decorrência de encefalite viral provocada pela infecção. Ele estava internado em um hospital privado na capital cearense.
Atendimentos
O afastamento dos trabalhadores da rede estadual preocupa não só pelo fato de estarem doentes, mas também no atendimento à população. Somados médicos e profissionais da enfermagem, linha de frente nos cuidados aos doentes confirmados com Covid-19, o número representa 60% das pessoas da Pasta que estão em quarentena, em casa.
O médico Edmar Fernandes, presidente do Sindicato dos Médicos do Ceará (Sindimed-CE), analisa os dados com receio. "Estão caindo os soldados que seguem lutando nessa guerra. São os grandes protagonistas nessa luta. É por eles que saem os diagnósticos e também a intubação de pacientes mais graves. Por isso a nossa luta pelos Equipamentos de Proteção Individual. Como no mundo, a expectativa é que 20% dos profissionais sejam atingidos".
Outras ações estão sendo tomadas pelo Sindimed-CE. Diante do aumento preocupante de casos de Covid-19 e a constante exposição a agentes insalubres biológicos, junto a pacientes e objetos hospitalares infectados pelo vírus SarsCoV-2, a entidade, através da de assessoria jurídica, ajuizou, na semana passada, "Ação Coletiva com Pedido de Tutela de Urgência, em face do Município de Fortaleza e do Instituto Doutor José Frota (IJF)". A classe solicitou o reconhecimento e majoração dos adicionais de insalubridade para o grau máximo, de 40%, em virtude do estado de exposição permanente.
Sabe-se que o ambiente de trabalho dos médicos não fica restrito ao setor de emergência, onde geralmente ficam internados os pacientes em estado grave, como os Centros de Terapia Integrada (CTIs) e as Unidades de Terapia Intensiva (UTIs), mas também aos de procedimentos eletivos, no qual estão sendo direcionados para o atendimento dos casos do novo coronavírus. Assim, esses setores onde os profissionais exercem as atividades são excessivamente insalubres e perigosos.
Na avaliação de Ana Paula Brandão, presidente do Conselho Regional de Enfermagem do Ceará (Coren-CE), os dados dos profissionais afastados são alarmantes. "Os enfermeiros, técnicos e auxiliares são os primeiros a receber esses pacientes. A redução desses profissionais pela doença vai diminuir o poder de atendimento do Sistema Único de Saúde (SUS)".
Ana Paula Brandão diz ainda que a entidade tem uma grande preocupação com a atenção primária na capital cearense. "É onde detém o maior numero de casos e denúncias. O profissional de enfermagem que está trabalhando na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) está atuando com todos os itens necessários, mas quem está na atenção básica não vem recebendo os devidos cuidados".
O Coren-CE está realizando uma série de fiscalizações profissionais, como nas Unidades de Pronto Atendimento (UPAs), ouvindo relatos de enfermeiros e técnicos de enfermagem que atuam em cada regional. Um relatório deve ser montado e entregue para cada unidade hospitalar. Dependendo da gravidade do que for encontrado, o Ministério Público Estadual também será informado.
"Intensificamos as fiscalizações. Em outros países, vimos que a falta de EPIs é fator determinante para causar a proliferação. Temos um quantitativo de profissionais que estão assintomáticos e não conseguiram fazer o teste. Esse número é volátil", revela a presidente do Coren-CE.
A entidade dos profissionais de enfermagem conseguiu, na segunda-feira (13), a tutela de urgência, em caráter liminar, que solicita do Governo do Estado, bem como da Prefeitura de Fortaleza, o fornecimento dos EPIs. De acordo com a decisão, os entes deverão esclarecer para quais unidades se destinam e quais equipamentos serão disponibilizados, "evitando trabalhar-se com números genéricos e situações imprecisas".
DN
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